Um filme dos nossos dias
A California Filmes tem escolhido
criteriosamente os filmes que vai lançar nos cinemas brasileiros e em blu-ray e
DVD. Basta fazer uma retrospectiva dos últimos lançamentos sob responsabilidade
da distribuidora para confirmar essa afirmativa.
Nesse
sentido, pretendo compartilhar algumas considerações e dicas úteis a respeito
do catálogo recente da California. Minha intenção é que isso se desenvolva em
alguns posts sequenciais, sem observar a cronologia exata dos lançamentos.
O
primeiro deles, Dheepan – o refúgio (Dheepan),
é nada menos que o vencedor do prêmio de melhor filme no Festival de Cannes de
2015. O currículo da obra não pára por aí: trata-se do último filme do ousado
diretor francês Jacques Audiard, que
traz na bagagem, dentre outros, os fartamente premiados O profeta (Un prophète/A prophet, 2009), Ferrugem e osso (De rouille et d’os/Rust and bone, 2012) e De tanto bater meu coração parou (De
battre mon coeur s’est arrêté/The bit that my heart skipped, 2005).
Embora
tenha como protagonistas apenas atores desconhecidos e quase inexperientes, alguns
de origem cingalesa (do Sri Lanka) e outros indiana, Dheepan tem interpretações
surpreendentes e vigorosas, em harmonia com a força das imagens e a história
contada. Para se ter uma ideia, o ator principal da trama é um real exilado
político na França, ou seja, ele sabe do que está falando.
No
filme, Dheepan decide fugir da guerra civil do Sri Lanka para a Europa, para
tentar obter direito ao asilo. Para facilitar a aceitação das autoridades,
escolhe uma mulher e uma pré-adolescente desconhecidas entre si e dele próprio.
Assumem identidade falsa e fingem formar uma família. Já nos subúrbios de
Paris, sem conhecer a língua local, o casal arranjado consegue apenas trabalho
duro e mal remunerado. Mas a violência urbana não dá trégua e o instinto
protetor e violento de Dheepan volta à tona, para resguardar a integridade da
nova família. Enfim, fugiram do inferno e caíram num outro inferno.
É um
filme a respeito de sobrevivência. O passado insiste em se manter vivo na
memória e no comportamento de cada um. Personagens fortes, mas sem excessos de
interpretação. Tudo perfeito e extremamente plausível. E uma pergunta não se
cala nas imagens que vemos: o que vem a ser um refúgio? Lugar de medo, solidão, pobreza,
desespero, passado mal resolvido?
Em tempos em que milhares de sírios fogem desesperadamente da Síria para tentar uma vida melhor e mais segura na Europa, não deixa de ser providencial um filme para acalorar o debate mundial sobre a imigração e os refugiados. Até que ponto os países europeus estão preparados para receber tantos estrangeiros de uma só vez? Até que ponto há emprego para todo mundo que chega? Até que ponto os refugiados são bem recebidos e conseguem se integrar e se adaptar à sociedade local? Até que ponto a nova guerra enfrentada é menos traumática que a do país de origem? Até que ponto há controle suficiente para que, dentre os refugiados, não estejam infiltrados terroristas?
O
fenômeno da imigração não é novo, mas jamais na história recente mundial tantos
estrangeiros tentaram entrar em solo europeu, em tão curto espaço de tempo e
com tantas mortes pelo caminho, geralmente durante a travessia pelo mar, em
embarcações sem a mínima segurança ou condições de higiene e saúde.
O filme tem apenas 109min de duração e previsão de estreia nos cinemas brasileiros para 29/10/2015, mas a solução para a problemática dos refugiados está longe de encontrar o ponto final. Passa pelo espírito de solidariedade, igualdade, fraternidade, liberdade, paz e respeito mútuo.
O trailer de Dheepan em HD com legenda em português você pode ver pelo link https://www.youtube.com/watch?t=1&v=3Xy9WEqLneA .
A trilha sonora, um excelente capítulo à
parte, foi composta pelo quase novato Nicolas
Jaar, com adicional do barroco Antonio
Vivaldi (Nisi Dominus RV 608: Cum Dederit), perfeitamente registrada no
trailer.
Para
aumentar o debate sobre o tema, sugiro os filmes Dançando no escuro (Dancer in the dark, 2000, dirigido pelo
polêmico Lars von Trier), O caçador de
pipas (The kite runner, 2007, dirigido pelo versátil Marc Foster) e Era uma vez em Nova York (The immigrant,
2013, dirigido por James Gray).
Para encontrar os demais
posts relativos a lançamentos nos cinemas nacionais ou estrangeiros, basta
clicar sobre o marcador correspondente, logo abaixo desta dica, ou utilizar o
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