O filho de Saul e os nossos dias
Encontra-se em cartaz o prestigiado filme O filho de Saul (Son of Saul), no maior e mais
importante festival de cinema do Brasil, a Mostra Internacional de Cinema de
São Paulo (São Paulo International Film Festival), em sua 39ª edição, que
acontece até 04/11/2015.
Em função da relevância do filme e da
lúcida e oportuna crítica realizada pelo jornalista Rodrigo Salem para o jornal Folha
de São Paulo, transcrevo a seguir a matéria em sua íntegra.
"Auschwitz não é 'Titanic', diz diretor de 'Son of Saul'
O filme húngaro ‘Son of Saul’ (filho
de Saul) é a experiência mais aterrorizante que o cinema produziu em 2015.
Vencedor do Grand Prix do último
Festival de Cannes e eleito o melhor longa do evento pela Federação
Internacional de Críticos de Cinema, o drama de guerra do cineasta László Nemes
é um filme de horror que usa a realidade para provocar o espectador.
Durante 107 minutos, todos
projetados em uma proporção claustrofóbica apenas no centro da tela, o filme
segue Saul Ausländer (Géza Röhrig) por 36 horas. Ele é um judeu húngaro do
Sonderkommando – prisioneiros responsáveis pelas tarefas diárias de Auschwitz –
que descobre o filho morto entre os cadáveres das câmaras de gás que limpa e
deseja enterrar o garoto segundo suas tradições.
‘Há dez anos, li uma série de
documentos descrevendo como era o processo interno de trabalhar naquela fábrica
de extermínio’, conta à Folha o diretor estreante de 38 anos.
‘Também tive acesso ao testemunho de
um médico húngaro que trabalhou com [o nazista Josef] Mengele. Era uma história
de terror, mas não queria fazer um filme nos limites desse gênero. A realidade
é muito mais assustadora e cruel.’
‘Son of Saul’ foi concebido com
apenas 1,5 milhão de euros, mas não foi um financiamento fácil. ‘Como é meu
primeiro filme, muitos ficaram com medo de investir. Ninguém queria financiar
também por causa do assunto pesado, então fiz todo na Hungria’, explica Nemes,
que teve apoio da entidade francesa Cinéfondation para desenvolver o roteiro.
‘O cinema está com um problema
sério: ninguém quer mais correr riscos.’
Antes de filmar no campo de
concentração recriado em uma fábrica abandonada nos arredores de Budapeste,
Nemes fez uma lista de proibições para si mesmo: a trilha sonora seria formada pelos
gritos e sons gerados pela trama; câmera no ombro, mas sem tremer; nenhuma cena
bonita plasticamente; o espectador sempre na linha do olhar de Saul; e,
principalmente, nada de rodar em câmeras digitais.
‘Digital não é cinema, porque cinema
é físico, químico e projetado. Há um pensamento por trás de um longa em
película e o espectador não percebe esses detalhes na limpeza do digital. É um
progresso que nos leva a uma regressão’, diz ele.
Nemes não espera sucesso comercial,
apesar da consagração da crítica. ‘Auschwitz não é 'Titanic'. As pessoas querem
comer pipoca e ver 'Velozes e Furiosos'. Não vamos fazer dinheiro nenhum.’”
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/10/1698428-auschwitz-nao-e-titanic-diz-diretor-de-son-of-saul.shtml (reportagem de Rodrigo Salem, publicada
em 26/10/2015)
Mais informações, tais como site da Mostra
e trailers dos principais filmes, podem ser acessadas num dos posts
anteriores, disponível aqui.
Para encontrar os demais posts sobre
festivais de cinema ou prêmios, basta clicar sobre o marcador correspondente,
logo abaixo desta dica.
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