sexta-feira, 30 de outubro de 2015

39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo: O Filho de Saul


O filho de Saul e os nossos dias




Encontra-se em cartaz o prestigiado filme O filho de Saul (Son of Saul), no maior e mais importante festival de cinema do Brasil, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (São Paulo International Film Festival), em sua 39ª edição, que acontece até 04/11/2015.

Em função da relevância do filme e da lúcida e oportuna crítica realizada pelo jornalista Rodrigo Salem para o jornal Folha de São Paulo, transcrevo a seguir a matéria em sua íntegra. 

"Auschwitz não é 'Titanic', diz diretor de 'Son of Saul'

O filme húngaro ‘Son of Saul’ (filho de Saul) é a experiência mais aterrorizante que o cinema produziu em 2015.

Vencedor do Grand Prix do último Festival de Cannes e eleito o melhor longa do evento pela Federação Internacional de Críticos de Cinema, o drama de guerra do cineasta László Nemes é um filme de horror que usa a realidade para provocar o espectador.

Durante 107 minutos, todos projetados em uma proporção claustrofóbica apenas no centro da tela, o filme segue Saul Ausländer (Géza Röhrig) por 36 horas. Ele é um judeu húngaro do Sonderkommando – prisioneiros responsáveis pelas tarefas diárias de Auschwitz – que descobre o filho morto entre os cadáveres das câmaras de gás que limpa e deseja enterrar o garoto segundo suas tradições.

‘Há dez anos, li uma série de documentos descrevendo como era o processo interno de trabalhar naquela fábrica de extermínio’, conta à Folha o diretor estreante de 38 anos.

‘Também tive acesso ao testemunho de um médico húngaro que trabalhou com [o nazista Josef] Mengele. Era uma história de terror, mas não queria fazer um filme nos limites desse gênero. A realidade é muito mais assustadora e cruel.’

‘Son of Saul’ foi concebido com apenas 1,5 milhão de euros, mas não foi um financiamento fácil. ‘Como é meu primeiro filme, muitos ficaram com medo de investir. Ninguém queria financiar também por causa do assunto pesado, então fiz todo na Hungria’, explica Nemes, que teve apoio da entidade francesa Cinéfondation para desenvolver o roteiro.

‘O cinema está com um problema sério: ninguém quer mais correr riscos.’

Antes de filmar no campo de concentração recriado em uma fábrica abandonada nos arredores de Budapeste, Nemes fez uma lista de proibições para si mesmo: a trilha sonora seria formada pelos gritos e sons gerados pela trama; câmera no ombro, mas sem tremer; nenhuma cena bonita plasticamente; o espectador sempre na linha do olhar de Saul; e, principalmente, nada de rodar em câmeras digitais.

‘Digital não é cinema, porque cinema é físico, químico e projetado. Há um pensamento por trás de um longa em película e o espectador não percebe esses detalhes na limpeza do digital. É um progresso que nos leva a uma regressão’, diz ele.

Nemes não espera sucesso comercial, apesar da consagração da crítica. ‘Auschwitz não é 'Titanic'. As pessoas querem comer pipoca e ver 'Velozes e Furiosos'. Não vamos fazer dinheiro nenhum.’”



Mais informações, tais como site da Mostra e trailers dos principais filmes, podem ser acessadas num dos posts anteriores, disponível aqui.


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